Por Thiago Henrique – pesquisador, historiador e colunista
A pesquisa sobre o Carnaval de Mogi Mirim continua. Quer dizer, a pesquisa toda já está pronta, mas, como todo pesquisador que se preze, dever-se-á retornar a ela para verificar mais uma vez suas procedências. Com isso, surgem os desafios de encontrar registros detalhados sobre as festividades de cada ano neste município. Infelizmente, os jornais A COMARCA e A IMPRENSA não trouxeram informações sobre o Carnaval de 1901, o que não significa que a festa não tenha ocorrido. A ausência de registros nos leva a crer que pode ter sido um ano de pouca movimentação ou que, simplesmente, os periódicos não deram destaque ao evento. Ainda assim, a busca por outras fontes segue, pois cada pequeno vestígio pode ajudar a reconstituir essa parte da história da cidade. Nessa época, não era apenas o jornal A COMARCA que ilustrava suas notícias e fatos do município. Mogi Mirim teve muitos jornais de diversos segmentos, sendo o primeiro O PROGRESSO, fundado em 19 de março de 1873. Mas, neste período da pesquisa, outros também circulavam, como A Imprensa, O Mogiano, O Saci, entre outros. Muitos, infelizmente, encontram-se no ostracismo do desaparecimento, inclusive o primeiro jornal mencionado. Este pesquisador debruça-se sobre esta coluna e outras que virão sobre o tema, consultando as fontes que sobreviveram ao tempo. No ano seguinte, em 1902, o Carnaval também não pareceu ter sido muito animado. Em 13 de fevereiro daquele ano, um pequeno registro discreto do jornal A COMARCA afirmou que “completamente desanimadas estavam as tradicionais festas carnavalescas, em Mogi Mirim”. Apesar disso, o comércio já demonstrava sinais da tradição carnavalesca, com anúncios da Casa Cardona e da Padaria Central vendendo itens típicos da folia, como serpentinas, confetes e lança-perfume. No dia 6 de fevereiro, a Casa Cardona lançou um grande anúncio sobre a venda desses produtos. A loja ficava localizada na Praça da República, Sobrado nº 2. Outro anúncio do mesmo dia mencionava que, na Padaria Central, então situada em frente ao Correio, também era possível encontrar esses itens.

A presença desses produtos sugere que, mesmo sem grandes festividades relatadas, os mogimirianos já incorporavam os elementos característicos do Carnaval em seu cotidiano. Ao longo do tempo, encontrar-se-ão outros carnavais como esse, considerados desanimadores, seja por crises econômicas, seja por eventos históricos como a Primeira Guerra Mundial (tema que abordarei mais adiante). Essa dualidade entre um Carnaval aparentemente morno e à venda de artigos festivos nos convida a refletir sobre como a cidade vivenciava a festa naquela época. Se não houve grandes desfiles e bailes registrados, teriam as comemorações ocorrido de maneira mais reservada, em casas e pequenos grupos? Ou estaria o entusiasmo pela festa apenas começando a se firmar em Mogi Mirim? Na coluna em que conto a história do Carnaval de 1900, essa hipótese de “reserva” cai por terra. Naquele ano, como já mencionado, ocorreu um grande Carnaval, a ponto de faltar farinha de trigo em algumas padarias da cidade, devido às “guerras” desse insumo. Apenas um ano depois, não seria razoável presumir que não houve desfile de carros ou mascarados percorrendo as ruas. O que de fato ocorreu foi que a festa existiu, mas, infelizmente, os jornais A COMARCA e A IMPRENSA pouco ou quase nada divulgaram sobre ela. O porquê, não saberei!
Após o período carnavalesco, a rotina da cidade retomava seu curso normal, e o comércio continuava a prosperar com outros produtos essenciais para o dia a dia. Um exemplo disso era a Casa Paranhos, que oferecia uma variedade de itens aos consumidores. Segundo publicação de A COMARCA de 13 de fevereiro de 1902, essa loja divulgou uma lista de produtos que nos ajuda a compreender os hábitos de consumo da época. Entre eles, destacavam-se: Cognac Lafenillade, espargos alemães e franceses, manteiga ,presunto em latas, chocolate fino, vinho do Porto Saudeman, doces em frascos Teyssoneau, línguas defumadas do Rio Grande, sopa seca Julienne, mostarda francesa, águas de Caxambu e Lambari, entre outros. Esses itens eram vendidos na Rua da Estação, nº 6 Fazer essa conexão entre os festejos e os produtos comercializados nos permite compreender melhor os costumes e interesses da população daquela época.
Assim, a investigação sobre o Carnaval de Mogi Mirim no início do século XX não se encerra aqui. Cada documento encontrado, cada anúncio comercial ou simples nota de jornal contribui para reconstruir um quadro mais completo da vida na cidade. Afinal, não se conta apenas a história do Carnaval, mas também como eram os costumes e a vida social, tema ainda escasso de pesquisa. Mesmo quando as fontes são limitadas, o contexto e os indícios nos permitem vislumbrar um pouco do passado e manter viva a memória cultural de Mogi Mirim.