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ELEIÇÕES AMERICANAS E O QUE DEVEMOS APRENDER: ESTRANHOS EM “THEIR OWN LAIND” 

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Por Thiago Henrique – pesquisador, historiador e colunista

A recente eleição dos Estados Unidos destacou, mais uma vez, as profundas divisões políticas e sociais que permeiam o país. Cada lado do espectro político parece habitar uma realidade própria, onde desconfiança e ressentimentos se acumulam em vez de se dissiparem. Para compreender essas fraturas, o livro Strangers in Their Own Land (sem tradução), de Arlie Russell Hochschild, oferece uma perspectiva valiosa. A obra explora o fenômeno da “profunda história” de comunidades conservadoras americanas, destacando as razões emocionais por trás de suas escolhas políticas, que muitas vezes desafiam a lógica racional. Hochschild investiga a sensação de alienação e perda sentida por esses eleitores, que percebem o progresso social e político como uma ameaça direta às suas identidades e valores. Em um contexto de eleições tão polarizadas, entender essa sensação de “estranheza em solo próprio” é fundamental, não só nos Estados Unidos, mas no Brasil também, onde é cada vez mais evidente essa “estranheza” e “alienação” de uma parcela da população. Afinal, esse sentimento não é restrito a um grupo específico, mas é algo que atravessa fronteiras políticas, culturais e geográficas. Um dos fatos mais intrigantes da leitura do livro é a ideia de que existe um sentimento de perda entre aqueles que veem seu estilo de vida, bem como de valores sendo ameaçados por mudanças culturais e políticas, mesmo quando algumas mudanças trazem benefícios econômicos. 

O resultado eleitoral mais recente aponta para um país dividido, mas também para uma oportunidade de compreender a complexidade dessas divisões. Não posso deixar de tecer comentários acerca deste ponto, diferente não foi na última eleição presidencial no Brasil. Tornou-se claro, evidente e óbvio que o país também passava e continua passando por uma divisão, agora, o outro lado mais “sossegado” (afinal, passaram muita vergonha, quantos memes?). Hochschild argumenta que, mesmo entre tantas diferenças, há pontos de encontro nas aspirações e medos dos cidadãos americanos. Em vez de ver o outro lado como inimigo, sua obra nos convida a ouvir e buscar compreender as narrativas que moldam essas visões. Neste momento de renovação política, que de renovação não tem nada, pois, o partido democrata, mostrou que sua força está comprometida e esquecida por uma parcela imensa da população. O Senador Bernie Sanders, acertadamente afirmou que o partido democrata “abandonou a classe trabalhadora” e que essa mesma “abandonou-os”. Talvez o maior desafio dos líderes americanos seja reconhecer que o país não pode prosperar como uma nação de “estranhos em sua própria terra”. Mas seria somente aplicável esse pensamento nos Estados Unidos?  Em vez disso, é preciso encontrar pontes que respeitem essas profundas histórias e, ao mesmo tempo, promovam um terreno comum para que todas as vozes possam se sentir ouvidas e valorizadas. Assim se faz necessário ao Presidente do Brasil, criar o mais rápido possível pontes e não paredes, não sei como, contudo, far-se-á rapidamente repensar o terreno daqueles que se encontram “estranhos”, sendo esquecidos e não ouvidos pelo governo brasileiro. Senhor Presidente, Vossa Excelência está mais do que na hora de repensar pontes e conectividade com os que se sentem esquecidos. Ou cometeremos o mesmo erro das eleições americanas? Hochschild descreve como muitos americanos se sentem deixados para trás na “fila do sonho americano”. Essa metáfora explica a desilusão de comunidades que veem seu país seguir em direções que, para elas, representam uma perda da essência nacional. Na eleição, esse sentimento é intensificado: para muitos, votar é uma tentativa de resgatar o país que imaginam estar se perdendo, mesmo que as consequências do resultado aumentem ainda mais o abismo entre os grupos. 

A eleição, portanto, reflete uma América cada vez mais dividida entre o ideal e o real, entre o que já foi e o que virá. E enquanto as feridas dessas divisões se mantêm abertas, talvez o maior desafio dos próximos líderes seja não apenas governar, mas também criar pontes de empatia que, como sugere Strangers in Their Own Land, transformem o país em um solo mais acolhedor para todos, onde ninguém precise se sentir um estranho. “Esperancei” uma vitória de Kamala, senti-me um “americano”, torcendo pelo poder feminino, bem como por quase ter se tornado a primeira mulher a governar os Estados Unidos (creio que essa hora chegará), tarde, mas chegará. Se em meu país, repleto de machismo e misoginia chegou, não será diferente por lá. Já que Kamala ou outra mulher terá que aguardar no banco do tempo, aqui auspício a chegada de uma segunda mulher presidente. Até esse dia chegar, meu dever é analisar e crer em um futuro melhor. Torço que o radicalismo de Trump não respingue por aqui. Afinal, pessoas como Trump não nasceram, elas foram moldadas por uma população sem direito a fala, representatividade, sem emprego e sem esperança. Boa sorte, para os Estados Unidos e para o mundo! 

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